quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O JORNAL COMO MATERIAL DIDÁTICO


Esse artigo tem como objetivo enfatizar a utilização do jornal como material didático. A tese utilizada é do sociólogo e mestre em Ciências Sociais pela Unicamp, Antonio Alberto Trindade,que defendeu seus pontos de vista em sua dissertação de mestrado sobre o “Uso do Jornal como Material Didático”, na PUC de São Paulo.
Trindade realizou pesquisa entre 1998 e 2002 com 37 jornais brasileiros
que possuíam projetos de “Jornal em Escola” - que é como são denominados os
projetos que usam jornal didaticamente.







O jornal como material didático


1- A origem do jornal:
No Ocidente, os primórdios dos jornais surgiram ainda na Antigüidade, com a Acta Diurna publicado sob ordem de Júlio César na Roma Antiga. A edição de vários títulos de jornais e outras publicações foi amplamente facilitada a partir da invenção da prensa móvel por Gutenberg. Somente com a Revolução Industrial, no século XVIII, é que o jornal ganhou formatos semelhantes ao que se tem hoje, e como meio de comunicação, se consolidou como fonte principal de informação da sociedade ocidental. Já em culturas da Ásia, os jornais seguiram caminhos mais identificados com a divulgação de informações por fontes oficiais de poder.
No Brasil, o primeiro jornal a circular foi o Correio Braziliense, editado por Hipólito José da Costa, impresso em Londres e distribuído na colônia a partir de 1808. No mesmo ano, com a chegada da Imprensa Régia com Dom João VI, até então não havia imprensa oficial no Brasil, é fundado o primeiro jornal publicado inteiramente no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro em 1808.

1.2-FORMATOS:
Os jornais contemporâneos normalmente são impressos em um tipo específico de papel espesso e áspero - o papel-jornal - cortado em folhas de tamanhos padronizados.
• Tamanho Standard - entre 60cm x 38cm e 75cm x 60cm
• Tamanho Tablóide - cerca de 38cm x 30cm
• Tamanho Tablóide Berlinense (ou Europeu) - cerca de 47cm x 31,5cm
• Tamanho Microjornal
1.3-SEÇÕES:
Os jornais diários, além da divisão em editorias e cadernos temáticos mencionada acima, apresentam ainda outras seções de conteúdo jornalístico porém não-noticioso. Elas costumam estar distribuídas pelos cadernos ou páginas especiais.
Editorial: artigos que expressam a opinião institucional e apócrifa (sem assinatura individual) do jornal
Expediente: listagem da equipe da redação (pelo menos a direção, as chefias e as editorias), dados de tiragem e circulação, mais endereços e telefones para contato, assinaturas, números atrasados, etc.
Carta dos leitores: cartas selecionadas pela redação, comentando temas abordados ou sugerindo pautas para novas matérias
Obtuario: falecimentos de personalidades, geralmente agrupados junto aos anúncios fúnebres
Coluna social: notas e fotos de personalidades em festas e eventos sociais
Tempo e clima: previsões meteorológicas
Horoscopo: previsões astrológicas
Efemérides e curiosidades: fatos históricos na data corrente e informações de almanaque e cultura geral
Charge - geralmente, fazem caricaturas políticas ou de personagens do noticiário
Quadrinhos ou Banda desenhada - geralmente publicados em tiras de três ou quatro quadros
Classificados, Imóveis e Empregos - anúncios pequenos, geralmente pagos por indivíduos.


2- O jornal como material didático

O sociólogo e pesquisador Antonio Alberto Trindade fala sobre a utilização do jornal como instrumento pedagógico.
Para ele, o jornal traz o mundo para dentro da escola e deve ser usado de forma sistemática pelos professores.
Na Emeief Cidade de Takasaki, na Vila Jardim Alzira Franco, em Santo André, duas professoras estão utilizando o jornal em suas aulas. São iniciativas ainda isoladas, como tantas outras que despontam na rede municipal, masque já demonstram o potencial pedagógico do periódico. Patrícia Aparecida Martins Loro e Adelice Aparecida do Nascimento,respectivamente professoras do 1º e do 2º anos do 2º ciclo, não desenvolveram um uso sistemático elemento presente do cotidiano de atividades em sala de aula. Foi no final do semestre passado que Patrícia passou a usar o jornal nas atividades com os alunos e já aprovou a idéia. “No ano que vem vou incluí-lo no planejamento para usá-lo desde o começo do ano.” Ela explica que as crianças ficaram empolgadas com a iniciativa.“E os pais também, porque os alunos levam o jornal para casa e como a região é carente, nem todos teriam oportunidade de comprá-lo.”A atividade mais comum desenvolvida por Patrícia é pedir que um aluno leve o jornal e escolha com os familiares uma reportagem para ser discutida. No dia seguinte, o resultado da conversa é apresentado ao resto da classe que também emite opiniões. No final do exercício, todos escrevem sobre o assunto. “Os alunos estão mais críticos e bem informados”, afirma. Outro fato destacado por Patrícia é o progresso de um aluno seu,portador de deficiência mental, no processo de alfabetização a partir do uso do jornal, “especialmente dos quadrinhos que trazem informação com imagem e texto”.Patrícia disse que as idéias que desenvolve em sala foram retiradas de experiências de outras profissionais da rede. “Mas o ideal seria recebermos uma capacitação específica para utilizar o jornal em sala de forma mais sistemática e uniforme.” A professora pretende,até o final do ano,desenvolver um jornal com os alunos de sua classe.“A conclusão deste trabalho será eles escreverem o próprio jornal.”Já Adelice trouxe para sua turma do 2º ano do 2º ciclo da rede municipal experiências que desenvolve com alunos na rede estadual, onde já trabalha com jornais há quatro anos.“Realmente o jornal traz a realidade do mundo para dentro da sala, mas eu sinto falta de uma melhor capacitação para os professores desenvolverem um trabalho mais constante.”
Outra observação da professor é que os educadores foram obrigados a ficar mais bem informados com a chegada do jornal nas escolas. “Somos forçados a nos informar, pois a curiosidade dos alunos fica mais aguçada com o jornal. As crianças gostam e querem saber de todos os assuntos.” Adelice também ressaltou que o jornal é ótimo para auxiliar no desenvolvimento de crianças com dificuldade de aprendizagem.
Ela diz que gostaria de receber um jornal por aluno para utilizar uma mesma reportagem com todos ao mesmo tempo. “Afinal, é um excelente material didático. Só precisamos estar bem preparados para trabalhar com ele. ”O jornal pode ser um excelente instrumento pedagógico e de exploração de assuntos de forma multidisciplinar dentro da escola. Para isso, precisa ser considerado dentro do plano pedagógico escolar e ter sua utilização sistematizada por todos os professores. O sociólogo Antonio Alberto Trindade diz acreditar que o jornal é um material importante, com características próprias, mas que pode ter ótimo uso educativo e trazer muitas novidades. “O jornal permite que o professor
trabalhe de maneira diferente dos livros didáticos, pois ele traz textos, gráficos, ilustrações. Permite uma exposição clara e esquematizada dos assuntos”, afirma.
Para Trindade, é importante a possibilidade do professor promover o acompanhamento diário das notícias. “O estudante acompanha o desenvolvimento do fato, interpreta-o e constrói a compreensão do que se passou.”
Outra consideração do sociólogo é que as reportagens, se forem bem utilizadas e exploradas pelos educadores, podem servir para formar um leitor consciente, capaz de entender o que acontece à sua volta e até de fazer antecipações sobre o seu futuro. “Ou seja, é formada a visão do leitor que vê a informação e entende o que acontece, podendo inclusive realizar antecipações.”
Essa formação de um leitor diferenciado e crítico é uma grande competência a ser desenvolvida pela escola, segundo Trindade. “Para a criança aprender a ler o jornal, o processo educativo deve começar desde cedo, no ensino infantil e fundamental. O educador deve aproveitar os fatos que interessam a esse público; deve favorecer a criança a utilizar o jornal e deve criar métodos para desenvolver essa utilização.” O jornal é um veículo de informação que emite opiniões e que permite reflexões muito interessantes, diz o sociólogo. “O que é notícia? O que é um artigo? O que é um editorial? São formas do texto jornalístico que, além da cobertura dos acontecimentos, expõem o fato de que ele não é neutro. O leitor deve se apropriar e entender esse posicionamento do jornal e é conveniente que a formação deste leitor crítico se dê na escola.”
Outro destaque para a utilização do jornal está nas vivências e discussões que o convívio com o periódico pode proporcionar. As reportagens permitem a observação da estrutura do pensamento de forma organizada, uma vez que os textos jornalísticos têm características peculiares. Por exemplo, no caso dos artigos há idéias sendo apresentadas e defendidas com argumentos e no caso das notícias há a tentativa da manutenção da imparcialidade com a exposição de diversos pontos de vista sobre um mesmo fato.
Ponte para a realidade – A escola, segundo o pesquisador, parece estar fechada, fora da realidade, apesar de todas as orientações em contrário para que a instituição de ensino esteja conectada com o mundo. “O jornal pode ajudar nesta questão trazendo a informação do que ocorre no planeta para dentro da sala de aula. Pode auxiliar o professor e o livro didático, garantindo que o aluno olhe e entenda melhor o que acontece fora da escola.” Para isso, o sociólogo destaca a importância de se trabalhar com o jornal do dia, com notícias atualizadas, quentes, e não com jornais velhos, os chamados encalhes. “O professor só precisa entender o que há de específico no jornal e como ele pode ser utilizado nas disciplinas.” O primeiro passo para a utilização do jornal como material pedagógico, de acordo com Trindade, é que a proposta de uso do periódico seja pensada desde o planejamento escolar. “O projeto político-pedagógico da escola deve prever a utilização do jornal como material fundamental.”
Aluno repórter – E para o sociólogo, o jornal em sala de aula é mais que pertinente, uma vez que traz “informação atualizada, com formatos diversos que facilitam o processo de aprendizagem”. “A escola quer que o aluno leia, interprete e se expresse, o jornal é o caminho para isso. Um ótimo desafio que pode ser proposto aos alunos é que, após entender os textos jornalísticos, eles publiquem uma matéria no jornal. Os alunos são munícipes, são cidadãos, conhecem a realidade e podem publicar um texto, nem que seja nas cartas do leitor. Essa é uma excelente aula de cidadania que propicia ao estudante olhar as coisas de forma diferente. E o desafio de criar um texto publicável envolve correlações com as disciplinas de história, geografia, língua portuguesa, entre outras, permitindo que o estudante aprenda a buscar espaço para formar sua opinião.”
O aluno pode ser estimulado a perceber nas reportagens a busca pela objetividade, pela clareza na exposição das informações, a estrutura do texto e a fundamentação dos pontos de vista apresentados.“Esse é um trabalho interdisciplinar muito rico.”Mas Antonio Trindade ressalta a necessidade de os educadores não perderem de vista o fato de que o jornal não tem intenções pedagógicas. Mas em vista da demanda existente por materiais educativos não tradicionais, ele é um ótimo produto que deve ter a sua utilização estruturada e planejada.
Para tanto, o pesquisador defende que o professor deve receber formação para entender o jornal e para saber como utilizá-lo em sala de aula. “O jornal não traz sugestões de atividades prontas, mas tem uma finalidade educativa. O veículo deve ser entendido como um dos objetos para o trabalho de educação.” Ele traz as informações cotidianas.
É um estimulador para o diálogo com as pessoas, um formador de opinião. O jornal permite a constatação do efeito e a repercussão do acesso à notícia. “Ele muda a cabeça e mantém a pessoa atenta, viva.” Portanto, os programas que preparam os professores para trabalhar com este material são importantes. Trindade também afirma que não é interessante que os professores utilizem o jornal de forma desorganizada. “Não basta a utilização, é necessário haver a sistematização. Durante a elaboração de minha pesquisa visitei 28 escolas e a maioria dos educadores não tinha ciência da qualidade do produto jornal como instrumento pedagógico e do que o aluno pode ganhar e se tornar a partir da utilização do jornal.”
Alguns dados que fazem parte da tese realizada por Antonio Trindade, em pesquisa com alunos de 5ªà 8ªséries, reforçam o ponto de vista que o jornal é um material de bom aproveitamento em aula: 72,5% do material extraído do jornal não seria encontrado em material didático e tratava-se de conteúdo curricular aplicável ao trabalho com os alunos; 65% do material extraído do jornal trazia informações que poderiam ser vinculadas com os conteúdos curriculares De olho na rede – Portanto, o pesquisador defende que é muito importante um suporte pedagógico para utilização do jornal.
O sociólogo também observou a importância dos professores da rede municipal de Santo André se apropriarem com mais constância do jornal entregue diariamente nas escolas, além das páginas suplementares semanais. Pois, de acordo com Trindade, é através da observação e da análise diária das reportagens, junto com os alunos, que os professores conseguirão que os estudantes coloquem as opiniões deles em espaços como a Palavra do Leitor, coluna de cartas etc... “O professor pode criar a cultura de uso do jornal”, concluiu. Experiências com o jornal Patrícia usa o jornal didaticamente há seis meses e pretende continuar o trabalho no próximo ano, Adelice sente falta de capacitação para incrementar o uso do jornal.

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